terça-feira, 18 de agosto de 2009

Paulo Freire na visão de Maria Adozinda Costa

Entrevista de Maria Adozinda Monteiro da Costa Jornal do Commercio, Recife, 16 de setembro de 2001
A educadora Maria Adozinda Monteiro da Costa conheceu Paulo Freire ainda criança. Prima do educador, participou com ele da formação dos círculos de educação e culturas, implantados no início da década de 60 para alfabetizar jovens e adultos. Para Adozinda, a maior contradição, hoje, é promover a pedagogia ibertadora, defendida por Paulo Freire, em um País que é economicamente opressor e que não está
habituado a formar cidadãos críticos.
JORNAL DO COMMERCIO - O pensamento de Paulo Freire se resume ao método de alfabetização proposto por ele?
MARIA ADOZINDA COSTA - Nâo. Ele não é só o método, transcende isso. É uma pedagogia, um pensamento, Quando você reduz a método, acha que o método é maior que o sujeito. A pedagogia de Paulo Freire vê o aluno como sujeito do seu próprio processo de aprendizagem e não como um objeto passivo.
JC - Qual o argumento usado para defender essa idéia?
MARIA ADOZINDA - Paulo diz que a aprendizamgem é um evento social, A construção e a apropriação do conhecimento é um evento social, embora passe pelo individual. O diálogo é fundamental. O programa não pode ser uma coisa préestabebelecida, de tal forma que não tenha movimento, nem historicidade.
Que cartilha é essa, que fala de pudim, feita para quem? O universo temático tem que surgir da experiência existencial dos alunos. Seus sonhos, suas dificuldades, suas desilusôes. Por isso, ele pesquisava, ia para a comunidade onde o círculo de cultura seria aberto, para levantar essas questões. Aliás não havia o rigor estatístico. Era uma pesquisa de vida, quente e não fria. Paulo não teve medo de não ser científico.
JC - Que outras inovações apresenta o pensamento freiriano?
MARIA ADOZINDA - Ele mudou a estética da sala de aula. Ele achava horrível as filas de carteiras, uma atrás das outras. O que é que se vê? Somente a nuca do outro. Supunha também que o professor era a única fonte de saber. Não, ele muda essa estética. Paulo Freire propõe que seja um círculo, cara a cara, conversando, interlocutores. Isso mexe também com o que é ser professor, no que é ensinar e aprender. Passa a ser uma troca de saberes.
JC - Em Recife atualmente, você conhece alguma escola que adote integralmente a filosofa de Paulo Freire?
MARIA ADOZINDA - Agora, não sei.Parece-me que os governos mudam muito, de um para outro, Todo mundo começa a descobrir, a criar a roda. Até 98 havia muitos círculos de cultura na periferia do Recife e na Zona da Mata, A maravilha dessa experiência do Estado foi que houve, pela primeira vez, uma artticulação entre secretarias, entre competências, entre saberes.
JC - Dentro da perspectiva freiriana, qual o principal desafio hoje na educação?
MARIA ADOZINDA - A grande contradição hoje é promover uma pedagogia libertadora em um País que é economicamente opressor. A maior lição, para mim, a partir de Paulo Freire, é que ele toca nas suas possibilidades. Sua pedagogia se arma do possível para buscar o impossível. Paulo não morreu, estará completando 80 anos. Ele é um inventor, um curioso constante, um perguntador constante, um aprendiz. Eu
acho fantástico, porque a pedagogia dele fala sobre a vida, a dor, a fome, a alegria, a felicidade. Há o comprometimento com a existência das pessoas.

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